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O design social no dia a dia das pessoas

2023-04-11 11:08:47

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Por Cláudia Alquezar Facca, professora doutora do curso de Design no Instituto Mauá de Tecnologia (IMT)

De que o propósito do design é desenvolver produtos, sejam físicos, sejam  digitais, para solucionar problemas da sociedade, já temos certo conhecimento. Mas como o design pode ampliar sua contribuição e influenciar também a abordagem de questões como inclusão social, acessibilidade, sustentabilidade e justiça social em seus projetos?

O design social, expressão que vem ganhando destaque nos últimos anos, é uma área que busca aplicar os princípios do design para solucionar problemas sociais e melhorar a qualidade de vida das pessoas. Por meio do design social, designers e profissionais de áreas afins conseguem criar soluções baseadas na empatia, que levem em conta as necessidades e os desejos das comunidades mais vulneráveis e ajudem a promover a inclusão e a equidade social.

Victor Papanek foi um dos pioneiros do design social e definiu essa abordagem como um “design orientado para o ser humano, socialmente responsável e sustentável”. Segundo Papanek, o design deveria ser uma ferramenta para resolver problemas sociais, e não apenas uma forma de criar produtos esteticamente atraentes. 

Podemos observar a aplicação do design social em diversas situações. No campo da Saúde, podemos citar a criação de próteses e equipamentos médicos acessíveis e adaptados às necessidades dos pacientes. Na Educação, temos, por exemplo, o desenvolvimento de materiais didáticos mais eficientes e acessíveis para alunos com deficiência visual ou auditiva. 

Na acessibilidade, o design social pode criar soluções que tornem o ambiente urbano mais inclusivo e acessível para pessoas com mobilidade reduzida ou deficiência visual, como rampas de acesso, semáforos sonoros, elevadores e sinalizações em braile. Na sustentabilidade, pode contribuir para a criação de produtos e soluções que reduzam o impacto ambiental, como o uso de materiais recicláveis, processos de produção menos poluentes e produtos que possam ser recuperados e reutilizados. 

E, em nosso dia a dia, o design social pode trazer muitas soluções para problemas reais, facilitando a realização de tarefas domésticas, por exemplo. Muitos idosos ou com mobilidade reduzida têm dificuldade para segurar objetos pesados ou que exigem força, como panelas e frigideiras, ou para abrir tampas de potes de vidro. Nesse caso, os designers podem desenvolver soluções que tornem esses utensílios mais acessíveis, ergonômicos, seguros e fáceis de usar, como a adição de alças e tampas mais largas e emborrachadas, que oferecem maior conforto e aderência, ou por meio de dispositivos que auxiliem nessas tarefas, como abridores, pegadores e luvas. 

Outro exemplo de design social aplicado a objetos de uso cotidiano é a garrafa de água com filtro integrado. Essa solução permite ter acesso a água potável em regiões onde o abastecimento é precário ou inexistente, como em comunidades rurais ou em países em desenvolvimento. Essas garrafas têm filtros de carvão ativado, que purificam a água e tornam seu consumo mais seguro. A máquina de lavar roupas GiraDora – portátil e que funciona a pedal – é outro exemplo de design social que auxilia no dia a dia. Foi desenvolvida no Brasil, para atender às necessidades de comunidades sem acesso à energia elétrica confiável. 

O design social é uma área importante e em constante evolução, que pode ser uma ferramenta fundamental na promoção de mudanças sociais positivas e ajudar a combater a desigualdade e a exclusão social. Ao colocar o bem-estar do indivíduo e da sociedade em primeiro lugar e buscar soluções socialmente responsáveis e sustentáveis, o design social tem o potencial de transformar o mundo num lugar mais justo, acessível e inclusivo.

Cláudia Alquezar Facca – Designer, educadora e pesquisadora em Design, tem doutorado e mestrado em Design, especialização em Didática do Ensino Superior e Comunicação e Artes e bacharelado em Desenho Industrial, com habilitação em Projeto de Produto.